Especialistas alertam sobre perigo das informações contidas na internet
Isabela Madeira, Leticia Gomes e Yasmin Vilar
A internet e as mídias sociais são os meios mais procurados para se informar nas eleições, especialmente entre os jovens, com média de 42,5% de preferência, como mostra a pesquisa realizada pelo Instituto Paraná Pesquisa, em agosto. O problema é que essa seleção, perceptível nas discussões, tem efeitos perigosos na hora de se informar. “O algoritmo do Facebook é tendencioso”, afirma Bruno Nogueira, engenheiro de vendas e consultor de marketing da IBM Brasil.
Os algoritmos são sequências de comandos lógicos na internet para trazer conteúdos compatíveis com o interesse do usuários. Curtidas, compartilhamentos e comentários — todas as interações são utilizadas para montar um dossiê sobre o usuário nas redes sociais, restringindo o conteúdo a somente aquilo que a pessoa deseja ver. “Supondo que você tenha 60% dos amigos falando dos partidos de esquerda e 40% falando de partidos de direita, sem ter um posicionamento definido, você vai ver muito mais conteúdo de esquerda, o que pode vir a influenciar o seu voto”, afirma Nogueira.
Ele explica que o Facebook faz uma seleção diária de coisas que ele acha que você quer ver baseado em dados das suas navegações na plataforma. “Desse modo, quanto mais amigos em comum postarem ou comentarem um mesmo assunto, mais ele aparece para você”.
Para se manter informado em período de eleições o melhor método é reconhecer o problema. “O primeiro passo é entender que você está em uma bolha”, afirma o social media Fábio Oliveira. A consequência dessas bolhas sociais é a disseminação de notícias falsas e de grupos ideológicos tendenciosos.
As interações permitem que os algoritmos ditem o conteúdo que aparece em sua timeline. Em uma espécie de biblioteca virtual, todas as ações formam um dossiê completo sobre a vida do usuário e seu estilo de vida. Uma pesquisa realizada pela Universidade de Cambridge, no Reino Unido, utilizou algoritmos em testes de personalidades para descobrir com quantos likes é possível conhecer o usuário. Os resultados indicam que com uma média de 100 curtidas, já é possível identificar orientações sexuais, posicionamentos políticos, crenças religiosas, entre outras informações.
Além da seleção do conteúdo em destaque, as redes sociais dão preferência a publicações de amigos e familiares à de páginas e portais de notícias, como explica o social media. “Elas entendem que o usuário gostaria de ver mais o que as pessoas próximas estão publicando do que as marcas. Venho dizendo que, essas redes se tornaram veículos de mídia para as marcas, sendo necessário investir pois raramente elas vão ter um bom engajamento sem esse recurso”, explica Oliveira.
Esse meio pode ser uma das grandes estratégias nestas eleições, já que os candidatos podem utilizar postagens patrocinadas para obter um maior alcance. No Facebook, a prática foi liberada mediante uma identificação especial, que situa o eleitor sobre o caráter do conteúdo e o CPF ou CNPJ de quem impulsionou a publicação, que deve ser brasileiro. A medida visa evitar problemas com impulsionamento de posts como ocorrido durante as eleições americanas em 2016.
A participação do jovem
As mídias sociais como nova ferramenta para candidatos que querem se eleger é um cenário que ainda não pode ter o impacto mensurado. “É difícil afirmar categoricamente que as redes sociais influenciam no voto dos jovens, mas é uma realidade que elas possuem um papel importante nessas eleições e na escolha do candidato”, esclarece José Renato de Campos Araújo, sociólogo professor da USP.
Os escândalos de corrupção recentes e a liberdade de se expressar nos perfis online, são responsáveis pela discussão política entre jovens nas redes, mas a qualidade da informação compartilhada é cada vez mais duvidosa. “Discursos tendenciosos, como os relacionados à ditadura militar, ganham visibilidade, que ajudam a formar uma imagem que não foi real. Isso porque a formação de história do Brasil é deficiente e sabe-se muito pouco sobre os fatos”, afirma o sociólogo.
Ele ainda explica que o jovem, hoje, não é necessariamente mais engajado, apenas tem mais meios para se expressar. A diferença na maneira de se comunicar trouxe muitos benefícios como a democratização da informação, mas também acarretou outras dificuldades, como a falta de credibilidade das notícias veiculadas. O sociólogo salienta que dentre as motivações, a falta de interpretação e leitura são as maiores responsáveis para o fenômeno.
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