segunda-feira, 31 de maio de 2021

SAGARANA

 

Análise geral

Com contos narrados em primeira e em terceira pessoa, esta coletânea de Guimarães Rosa representa os ideais desta fase, chamando a atenção do leitor para tudo o que pode acontecer no ambiente do sertão mineiro. Com o seu regionalismo universalizante, Rosa aborda tanto os elementos característicos de um local determinado quanto questões que transcendem o sertão, podendo atingir todo e qualquer leitor.

A obra é marcada pela manutenção da tradição da contação de “causos”. Vaqueiros, jagunços e até mesmo animais transmitem uns aos outros as histórias que circulam pelo sertão mineiro. Sagarana trata de temas simultaneamente específicos e amplos, confirmando a grandeza de Guimarães Rosa em sua abordagem das questões humanas.


segunda-feira, 17 de maio de 2021

NASCE UMA CRÔNICA LUIS FERNANDO VERÍSSIMO

  A moça era bonita, se chamava Fabíola e me perguntou como nascia uma crônica. Entre outras coisas. Ela era repórter do jornal da universidade de Ouro Preto e estava me entrevistando, uma tarefa que eu não desejo a ninguém, enquanto uma câmera de TV gravava tudo. Dei a resposta de sempre. Qualquer coisa pode originar uma crônica. Às vezes, há um assunto em evidência que você é obrigado a comentar. Às vezes, é uma coisa, assim, impressionista; às vezes, é pura invenção, uma frase que sugere uma história, ou um cheiro no ar, ou um incidente banal... Os mistérios, enfim, da criação. Etcetera, etcetera. Não há vezes em que as ideias simplesmente não vêm? Há, há. Acontece muito. Com os anos, as ideias parecem que vão ficando cada vez mais longe, enquanto o seu poder de convocá-las diminui. Você chama e elas não se aproximam. Você grita por socorro e elas continuam longe, lixando as unhas. Você espreme o cérebro e não pinga nada. E hoje nenhum cronista que se respeite pode recorrer ao velho truque de, não tendo assunto, escrever sobre a falta de assunto. Ou desperdiçar papel caro e o tempo do leitor com um parágrafo inteiro só de introdução. Terminada a entrevista, a moça tira um livro meu da sua bolsa. Vai pedir meu autógrafo. Mas ela mesma usa a caneta para escrever alguma coisa no livro antes de passá-lo para mim. Estranho. Ela está me dando meu próprio livro autografado por ela? Leio o que ela escreveu: "Luis: a sua braguilha está aberta". A minha braguilha estava aberta. Passeei por Ouro Preto e dei toda a entrevista com o zíper da calça aberto. Naquela situação em que, na infância (...), nossas mães avisavam que o passarinho poderia fugir. Felizmente, meu passarinho já se resignou ao seu lugar. Nada de mais apareceu, a não ser que a câmera tenha flagrado algo. E eu disse para a Fabíola que ali estava um exemplo de como nasce uma crônica. Eu fatalmente usaria aquilo, num dia de ideias distantes

A SERENÍSSIMA REPÚBLICA!

  A Sereníssima República (Conferência do Cônego Vargas) – Conto de Machado de Assis By  admin   |   09/03/2013 0 Comment Meus senhores, Ant...